O negócio está fechado, o anúncio da aquisição já está na imprensa especializada e a companhia já iniciou o processo de transição da gestão. O trabalho dos envolvidos na negociação, no entanto, continua intenso, e os próximos meses serão de muito esforço para realizar a integração pós-fusão.
Conhecida pela sigla PMI (em inglês, Post Merger Integration), essa etapa após a concretização do deal exige um planejamento robusto. É a hora de fazer valer todo o investimento por trás de uma transação de Mergers & Acquisitions (M&A) e colocar em prática o Plano de Negócios.
Nos últimos cinco anos, o Brasil teve cerca de 10 mil transações, dentre M&A, Venture Capital, Private Equity e Aquisição de Ativos. De acordo com o relatório anual LatAm de 2022 da TTR Data, tais negócios movimentaram um valor de aproximadamente US$ 350 milhões entre 2018 e 2022, o que corresponde a mais de R$ 1,8 bilhão na cotação atual.
Inseridos em um período marcado por instabilidade no cenário econômico —em grande parte, pela pandemia e pelas incertezas do contexto político nacional e global —, o volume de transações apresentou grandes variações. Depois de crescer 57%, atingindo o maior número de transações no período de um ano em 2021, as aquisições no Brasil tiveram uma queda em 2022 de 12% em relação ao ano anterior.
Com volumes prejudicados e economia oscilando, torna-se ainda mais importante realizar uma integração pós-fusão bem estruturada, possibilitando aproveitar as sinergias mapeadas no processo.
Como fazer uma integração pós-fusão ser bem-sucedida?
O processo de PMI é uma das etapas mais críticas de todo o ciclo de um M&A. São meses de análises nas fases de diagnóstico, somada às longas negociações de engajamento para, enfim, chegar a um acordo e assinar o contrato.
A conclusão do deal, entretanto, não significa que todo o caminho tenha sido percorrido. Durante o período de integração pós-fusão, desafios inéditos surgem para gestões c-level das empresas envolvidas no negócio – É justamente nessa etapa que muitas operações colocam todo o investimento a perder.
De acordo com a Harvard Business Review, 70% a 90% das fusões dão errado durante o Post Merger Integration. Diversas incorporações fracassam por má- execução ou até negligência no processo de PMI.
Assim, é necessário planejamento e organização diligentes entre as partes. As análises pré-fechamento devem levar em consideração todos os setores das companhias e seus potenciais impactos no produto oferecido ao mercado.
Um plano precisa ser estruturado
Um plano de integração claro e estruturado deve ser determinado ainda durante a fase de fechamento do negócio. Mudanças estruturais na empresa devem zelar pela saúde do negócio, não pegando nenhuma liderança de surpresa.
Ainda no fechamento, a etapa de due diligence é quando a empresa compradora tem a oportunidade de conhecer em grande profundidade a estrutura da companhia à venda. A partir das auditorias desse processo, já é possível iniciar o desenho dos primeiros planos de integração e entender quais serão as melhores formas de execução. Sendo algumas destas:
- Integração total: mais efetiva para casos em que as companhias operam no mesmo mercado;
- Integração parcial: ideal para quando o BackOffice pode ser integrado, mas outros departamentos, como marketing e produto, permanecem independentes;
- Add-on: é um complemento ao negócio, e o objetivo é absorver a identidade e as competências da empresa adquirida.
Prazos são fundamentais
É comum dizer que após o primeiro dia da aquisição é que “de fato os trabalhos iniciarão”. Para uma integração bem-sucedida, toda a empresa precisa se envolver no planejamento, traçando prazos e metas, tornando mais tangível o andamento do processo.
Não há um tempo limite para integração; pode levar meses ou até passar de um ano para ser concluída, a depender da complexidade da operação. O ideal é traçar um Plano de Cem Dias, dividindo as atividades essenciais para a integração durante esse prazo.
Este período é fundamental para reiterar o compromisso entre as duas empresas.
Conheça a essência de cada empresa para identificar sinergias
Uma aquisição junta equipes de duas empresas para atuar em objetivos e metas comuns. Realizar uma análise profunda da estrutura de cada uma delas é importante para identificar potenciais sinergias entre os times.
A implementação das sinergias mapeadas gerarão reduções de custos, além de potencialmente deixar o dia-a-dia mais dinâmico e eficiente. Tais sinergias podem surgir na combinação de recursos humanos e conhecimentos técnicos da empresa, integração de sistemas e até compartilhamento da estrutura.
A comunicação precisa chegar a todos os envolvidos
Adotar uma comunicação clara e aberta deve ser prioridade no processo de integração pós-fusão. A transparência com colaboradores e stakeholders é essencial para que todos caminhem juntos no momento pós-aquisição e não haja nenhum ruído entre as partes envolvidas, seja no buy side ou no sell side.
Objetivos com a compra, metas a serem alcançadas e os próximos passos devem ser comunicados com objetividade e clareza para todos trabalharem motivados e com propósito comum.
A cultura de cada empresa deve ser respeitada
Cada empresa possui sua cultura como identidade. Construída no decorrer dos anos de atuação, a cultura organizacional não é passível de ser alterada da noite para o dia, já que interfere diretamente na rotina de trabalho de todos os colaboradores.
Por isso, após de uma fusão ou aquisição, é preciso lidar com duas empresas culturalmente distintas e não negligenciar suas características. Ao contrário, idealmente será construída uma nova identidade, trazendo pontos positivos de ambos os lados e assim, deixando os colaboradores satisfeitos e engajados com a nova fase da empresa.
Papéis e responsabilidades precisam ser definidos
Muitos colaboradores — incluindo cargos de gestão e direção — podem ficar com papéis indefinidos após um M&A. Assim, para que haja segurança e identificação dos colaboradores durante a transição, a determinação dessas funções é fundamental, garantindo que a produtividade e a motivação das equipes não sejam afetadas ou que os colaboradores se sintam ameaçados em seus cargos.
Responsabilidades devem ser designadas para que todos conheçam sua importância no cenário de transição.
Absorver conhecimentos é oportunidade para as equipes
Quando duas empresas se unem, não estão “apenas” unindo produtos e metas financeiras, mas sim somando conhecimentos técnicos, tecnologias e pessoas com habilidades diversas.
É fundamental que as lideranças estimulem a troca de conhecimento entre colaboradores e reservem períodos para que as áreas possam compartilhar sua dinâmica de trabalho. Eventos de integração são bem-vindos!
Mensurar o progresso é encontrar o futuro
O Plano de Cem Dias será grande aliado para que uma integração pós-fusão seja bem-sucedida. Seria prática contraproducente aguardar vencer este período sem realizar acompanhamentos referentes a metas estipuladas.
Avaliar o processo com proximidade e incentivar a realização de checkpoints em cada área é crucial para gerenciar a transição, verificando se os objetivos estabelecidos estão em dia. A rotina de acompanhamento contínuo melhora também a eficiência na identificação de problemas e determinação de soluções para resolvê-los.
Concluindo o tema, o momento de integração pós-fusão é repleto de desafios. O processo de PMI deve ser analisado e estruturado previamente à concretização do negócio entre empresas. Dessa forma, o auxílio de assessorias em um cenário de transição tão importante torna o processo mais eficiente e os objetivos alcançáveis para um futuro de sucesso.
A ADVISIA Investimentos atua tanto no sell-side quanto no buy-side, em diversos tipos de transações societárias, trabalhando sempre a favor da geração de valor aos nossos clientes. Trazemos nosso DNA de consultoria estratégica para o processo, identificando potenciais sinergias e alavancas que possam melhorar a rentabilidade do negócio e a maximização de valor.
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